O que ‘Os 7 de Chicago’, ‘George Floyd’ e a Netflix tem em comum?

Hoje, a Netflix divulgou o trailer de Os 7 de Chicago, o mais novo filme de Aaron Sorkin. O que talvez não saiba é que a produção em questão está em desenvolvimento a mais de uma década e que inicialmente Steven Spielberg dirigia o longa, mas por conta de tempo em sua agenda, Sorkin acabou assumindo também a direção.

Os 7 de Chicago é uma história real, de sete réus Abbie Hoffman , Jerry Rubin , David Dellinger , Tom Hayden , Rennie Davis , John Froines e Lee Weiner que foram acusados pelo governo federal por conspiração, incitação a motins, movimentos que se opunham à guerra do Vietnã, além de protestos que ocorreram em Chicago nos anos 60 em meio a Convenção Nacional Democrática.

Inicialmente eram oito os acusados, no entanto Bobby Seale teve seu julgamento suspenso durante o processo.

O resultado culminou em cinco dos sete condenados por incitar motins, e todos foram absolvidos de conspiração. Contudo o Juiz sentenciou TODOS os réus por desacato no tribunal… Posteriormente as acusações de desacato foram revertidas e as de motim anuladas.

Vale lembrar que durante tal manifestação que culminou na detenção dos oito homens, a polícia usou de violência extrema. Itens como gás lacrimogênio e cassetetes foram utilizados. Centenas de manifestantes e policiais ficaram feridos. Os jornalistas que estavam no local para fazer a cobertura, também sofreram agressões por parte das autoridades, além de terem suas câmeras destruídas ou confiscadas.

Vale lembrar que o filme que chega em outubro no streaming foi filmado, bem antes em ‘The Chicago 8‘ lançado em 2011, uma produção bem independente e com pouquíssima repercussão; esse em questão incluía o oitavo membro que mencionamos acima, que teve seu julgamento suspenso. Este homem, Bobby Seale, era o conhecido membro do “Panteras Negras”, e o que não contamos foi que ele não foi julgado com os demais, pois, foi condenado rapidamente por desacato e enviado a prisão pelo Juiz. Uma observação: Ele era o único negro do grupo. Mais uma vez, o racismo se fez presente na história americana.

Podemos traçar um paralelo com os dias atuais e de como os passos dados ao longo dos anos equivalem a pouquíssimos centímetros dentro dos quilômetros de distância que o preconceito, a intolerância, a violência e a impunidade caminha a frente. Mas seguimos firmes na luta de ampliar as vozes que precisam ser ouvidas.

Por isso, histórias assim precisam ser contadas, mesmo depois de tantos anos e de formas diferentes, pois muitas das vezes é quase que necessário que seja desenhado o quão preconceituoso o mundo é e de maneira tão histórica.

Tal ato dentro da sua grandiosidade muito se equivale aos que vimos esse ano após morte de George Floyd, o ex-segurança negro que foi asfixiado por um policial branco na cidade de Minneapolis, nos Estados Unidos, e gerou comoção e revolta levando muita gente a protestar nas cidades do país. Não só no País, tal movimento que trouxe a tona – novamente – o Black lives Matter, mexeu com o mundo e nos fez olhar ainda mais, não só para a desigualdade, mas como o racismo estrutural está enraizado nas culturas.

É minimamente irônico tal história ser contada agora pela gigante do streaming, poucos dias após uma denúncia de discriminação racial no set de uma das produções que visam trazer representatividade para a comunidade Negra.

A Netflix constantemente promove campanhas a fim de ampliar as vozes da comunidade negra em sua plataforma, criando inclusive uma playlist exclusiva. Mas é suficiente? Até quando deixaremos os resquícios de nossos colonizadores moldar nossos atos. Somos vivos, somos pensantes e empatia é algo que precisamos trabalhar em nós. Se os protestos existem ao longo dos anos é porque em algum momento uma massa compreendeu a importância de se fazerem ouvir.

Mas, que ‘Os 7 de Chicago’, ‘George Floyd’ e a Netflix tem em comum?

Todos têm a ver com preconceito, todos tem a ver com a forma que enxergamos o mundo e como gostaríamos que fosse. Todos tem a ver com empatia e com vozes que precisam ser ouvidas. E se não somos donos dessas vozes, que as façamos ressonar. Isso é o que a Netflix precisava fazer, e que falhou miseravelmente com Jeremy Tardy; mas que esperamos que cumpra seu dever com o novo filme de Aaron Sorkin.

E mais uma vez, reforçamos aqui. Um filme nunca é só um filme. Uma série nunca é só uma série. Sempre haverá uma mensagem que levaremos para vida. Tudo é conhecimento. Cabe você assimilar, internalizar e propagar da melhor forma possível.

Os 7 de Chicago estreia dia 16 de outubro na Netflix.

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