O Som do Silêncio é bom, mas se perde nos detalhes
O Som do Silêncio (Sound of Metal, em inglês) é definitivamente um dos filmes mais inusitados e densos do Oscar 2021. A produção que aparenta ser simples e breve, carrega um significado maior por trás de todas as batidas na bateria de Ruben (Riz Ahmed). O filme, que inicialmente pode se assemelhar a outro indicado (e vencedor) do Oscar, Whiplash, traz a semelhança apenas no instrumento escolhido pelo protagonista. Aqui, Ruben não busca a perfeição, pelo contrário. O Som do Silêncio lida com a constante busca pela sabedoria e pelo controle, dois dos conceitos mais complexos que existem.
O filme marca a estreia do diretor e roteirista, Daris Marder. Ele é todo voltado para a vida de Ruben, um bateirista de metal em busca do sucesso como músico. Ele enxerga a poesia nas batidas fortes do heavy metal e apesar de saber que seus ídolos usam protetores de ouvido, Ruben escolheu seguir seus passos e ignorar os cuidados. Quando sua audição começa a falhar, ele vê o sonho do rock indo por água abaixo, assim como suas esperanças, suas alegrias e tudo aquilo que ele um dia sonhou. Ruben precisa se reencontrar, mas simplesmente não sabe como fazê-lo.
Ruben tem ao seu lado uma companheira de banda e de vida. Lou (Olivia Cooke) é apaixonada pelo namorado e se entrega de corpo e alma a tentar achar uma solução para seus problemas. Mas ela também os seus e abrir mão de tudo por outra pessoa não é algo fácil. Quando Ruben encontra um tratamento médico experimental, ele vê ali toda a sua esperança e sabe que para isso precisa aprender a lidar com sua nova realidade. Antes de Ruben perder a audição, o casal morava em uma van e viaja pelos Estados Unidos em busca de bares escuros e sombrios para se apresentar. Eles tentam vender camisetas, economizam onde podem e passam os maiores perrengues pelo sonho musical. Quando Ruben descobre sua condição médica, eles se encontram no maior beco sem saída de suas vidas.
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Ruben pensa que sua vida acabou no momento que deixou de escutar as batidas de suas baquetas. O filme, porém, traz em sua mensagem principal a superação e a coragem de encontrar o desconhecido. O problema da produção está nos detalhes e nas cenas lentas, que a tornam uma obra demorada e cansativa. O Som do Silêncio poderia ter seguido o ritmo frenético inicial, mas abandona tudo quando o ritmo do filme muda e se torna silencioso. Não era preciso, afinal, a vida de Ruben sofre uma grande reviravolta e há momentos de tensão plena entre ele, Olivia e ele mesmo.
O protagonista busca por uma cura para sua perda auditiva, mas o filme nos mostra que existe uma cura ainda maior a ser buscada. Ruben precisa ser curado de sua saúde mental, a maior culpada e inimiga que ele pode ter. A produção desenvolve muito bem seu protagonista, mostrando o auge e o fundo do poço do ser humano, em momentos onde acreditamos não existir mais nada para nos tirar de lá.
O elenco é um grande chamariz aqui e precisa ser valorizado. Ahmed encontra no filme o maior trabalho de sua carreira até agora e como o protagonista, entrega um trabalho de gente grande, acostumada a estar nas indicações da academia. Olivia Cook também é destaque e mostra a versão de uma pessoa que precisa lidar com as mudanças que a vida lhe impôs. Lauren Ridloff, atriz surda que compõe o elenco de The Walking Dead, é o tapa na cara que todos precisávamos. Mesmo diante de sua deficiência, Lauren é uma verdadeira artista em tela.
O Som do Silêncio é bom, mas o ritmo lento prejudica uma produção que tinha tudo para ser um dos maiores sucessos de 2021.