Conversamos com Lauren Beukes, autora de ILUMINADAS
No último dia 29, chegou na Apple TV+, ILUMINADAS. A série de oito episódios, com produção executiva de Leonardo DiCaprio, adapta o livro de mesmo nome de Lauren Beukes. A produção é estrelada por Wagner Moura, Elisabeth Moss, Phillipa Soo, Amy Brenneman e Jamie Bell. E mescla com maestria thriller, drama e ficção científica.
À convite, tivemos a honra de conversar com a mente por trás da obra original, Lauren e trouxemos tudo aqui para vocês!
A Complexidade narrativa do livro, publicado no Brasil pela Editora Intrínseca é um dos granes atrativos. Aqui, Beukes explicou como surgiu a ideia:
“Você sabe, apenas me ocorreu e pensei que seria um livro muito interessante, mas eu não queria fazer, sabe, algo como Bill e Ted… E também, eu não estava realmente interessado em fazer uma história de serial killer porque acho que serial killers são fundamentalmente muito chatos. Você sabe, eles são homenzinhos quebrados. E a coisa mais interessante sobre eles é que eles matam pessoas de maneiras horríveis. Eles não são fascinantes. Eles não são profundos. Eles não são sofisticados. Eles não são intensos. Eles são patéticos. Então eu queria escrever contra a tradição dos Hannibal Lecter, você sabe, que são tão fascinantes… Vamos falar sobre violência contra a mulher e vamos falar sobre como as vítimas são retratadas. Vamos contar as histórias das vítimas e depois contar a história de uma sobrevivente e como ela vira a caçada. E isso para mim era como sempre o que era realmente interessante. Mas eu também queria ver como o século 20 mudou para as pessoas e para as mulheres em particular, e como alguns dos erros da história continuam surgindo, sabe, repetidamente.”
De fato essas camadas de ILUMINADAS são fundamentais se você se permitir mergulhar de cabeça nas páginas… E mesmo não querendo falar sobre um serial Killer de fato, a autora falou, e explicou como foi a construção deste:
“Então, eu ouço muitos podcasts sobre crimes reais, e há alguns realmente interessantes, sabe, há alguns em que pelo menos um caso em que um serial killer parou durante o período de guerra. E eu acho que os investigadores forenses especulam que talvez esse cara foi para a guerra e fez toda a matança lá e depois voltou, você sabe, e é por isso que houve um intervalo de cinco anos entre as mortes. Então eu pensei que era bem interessante e eu realmente quis trabalhar isso. Fora isso, há também o horror da guerra e o que ela faz com as pessoas e essa ideia de masculinidade tóxica. Eu odiava escrever sobre Harper. Achei-o tão insuportavelmente difícil de estar dentro de sua cabeça, e ele é muito cínico e não vê o mundo e não vê as maravilhas. E ele está tendo essas experiências incríveis, mas ele não as aprecia. E ele está meio, você sabe, focado em matar as coisas que ele odeia. E isso foi, eu acho, muito interessante para escrever. Foi muito divertido assistir ao show [que adapta o livro Iluminadas] com minha filha de 13 anos, que é muito nova. Não faça isso com sua filha de 13 anos. Mas, obviamente, você sabe, ela queria ver e ela estava percebendo porque ela fez um monte de fãs depois. E é apenas Harper se machucando. E foi assim que eu lidei ao escrevê-lo no livro, eu só precisava machucá-lo sempre que pudesse. Você sabe, assistir ao show parece tão perto do show. E talvez eu também tivesse um pouco disso.”
Contextualizando, Iluminadas acompanha Kirby, uma arquivista de jornal em Chicago cujas ambições jornalísticas são colocadas em suspenso após passar por um ataque traumático. Quando Kirby descobre que um assassinato recente é similar ao seu caso, ela se alia a um jornalista veterano e problemático, Dan Velazquez, para descobrir a identidade do assassino. Mas conforme eles percebem que determinados casos sem solução estão inexplicavelmente conectados, seus próprios traumas e a realidade confusa de Kirby permitem que seu agressor continue um passo à frente deles.
E aqui, como personagem central temos essa garota iluminada Kirby, o que ela significa para Lauren: “… Eu tive um caso muito angustiante na minha vida em que alguém que era próximo da minha família era a filha de 22 anos de uma faxineira que foi assassinada pelo namorado. Você sabe, se estamos falando de violência contra as mulheres, não são assassinos em série. São os homens que deveriam nos amar. São namorados e parceiros e maridos e pais e… Harp é meio que um substituto para isso… O serial killer era uma forma de explorar esse tipo de aspecto da violência… Então não estou dizendo que é de onde o livro veio, mas definitivamente faz parte de mim e é parte da raiva [por conta da impunidade e injustiça] da qual eu escrevi o livro era para realmente explorar a violência contra as mulheres e o que isso faz conosco e o que significa quando perdemos uma pessoa inteira. E eu não conseguiria justiça na vida real, mas conseguiria justiça no livro.”
E por mais que a série não fale tanto sobre o elemento VIAGEM NO TEMPO que o livro oferece, a auto nos conta que sua obra favorita do gênero é Donie Darko; além de se dizer desacreditada quando descobriu que Elisabeth Moss protagonizaria a adaptação de ILUMINADAS! “…Eu estava tipo, Elisabeth Moss, você está brincando? É apenas um fenômeno absoluto. Eu amo como, você sabe, acho que meu trabalho é profundamente feminista e acho que o show não teria acontecido sem ela defendendo isso…”
Beukes também explica que não devemos esperar ver uma história idêntica ao livro: “acho que eles [os fãs] devem estar preparados para que seja diferente do livro em alguns aspectos bastante significativos. Mas acho que eles precisam entender que o coração feminista do livro, se mantém. E se tornou uma adaptação usando os mesmos personagens e usando o mesmo tipo de narrativa, mas meio que expandindo de maneiras diferentes e muito emocionantes…”
Em suma, ILUMINADAS é um show repleto de camadas e nuances. Complexo e necessário à sua maneira. Alie isso a uma mensagem poderosa de sororidade e sociedade. Só por isso, já merece seu play!
Não perca ILUMINADAS na Apple TV+ com episódios semanais.
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