Lovecraft Country Review: Episódio 9 – ‘Rewind 1921′

Senhoras e senhores o nono episódio de Lovecraft Country da HBO, foi simplesmente o de maior impacto. É fato que a cada semana, a série traz a tona algum fato histórico esquecido pelo mundo, aliado ao universo Lovecraft com magia, monstros e tudo mais. No entanto, ‘Rewind 1921‘ mostrou o massacre de Tulsa, pelos olhos de um sobrevivente, o que tornou tudo ainda mais visceral.

Se o espectador ainda não havia entendido sobre o que se tratava o show, a narrativa desenhou para nós. E se estava confuso entender onde o conceito de viagem no tempo se encaixaria na trama, percebemos que ele se fazia necessário para amarrar todas as ponta soltas entre o passado e o presente.

O oitavo episódio foi perturbador, o nono foi visceral. Ele chegou para deixar nossas emoções à flor da pele e para nos colocar no lugar dos personagens, de alguma forma.

Iniciamos o episódio com Diana amaldiçoada, e se transformando em uma das meninas que a assombraram no episódio anterior. Todos ao seu redor tentavam descobrir uma maneira de curá-la. Enquanto todos apontam os dedos uns para os outros, a fim de arrumar um culpado para aquilo, Ruby reverbera: “Pare de apontar o dedo, todos vocês são os culpados”. Christina foi uma opção, e ela explica que o feitiço foi selado pelo Capitão Lancaster e que está além de suas habilidades.

O capitão Lancaster está a beira da morte, após ataque no episódio anterior e a pedra colocada em ‘Strange Case‘ tinha um propósito: interromper a magia que o mantinha vivo. A pedra parece ter garantido que na próxima vez que ele fosse mutilado ou morto, seu feitiço de “regeneração” não funcionaria. Nesse caso, a regeneração parecia usar partes do corpo de negros desaparecidos para restaurar seu corpo. O ataque do monstro em frente a casa de Leti, na semana passada deu início à sua morte. Christina, como William, o vê morrer.

Sem o livro dos nomes, que se perdeu no incêndio em Tulsa em 1921, Dee Morrerá… E é nesse momento que Hyppolita aparece. E em seu plano, após viver anos (que para nós foram dias) vagando pelo multiversos, sendo quem sempre quis ser, ela explica que eles precisam voltar no tempo, mais precisamente para Tulsa em 1921, a fim de recuperar o Livro dos Nomes.

Montrose não consegue lidar muito bem com a situação e o plano. Ele não questiona, mas se afunda na bebida. E ao confronta-lo, Tic descobre a possibilidade de George ser seu pai, e não Montrose.

A Partir desse momento, até o final, se fosse sentir o mínimo de empatia, é impossível não se emocionar, ou compadecer com cada palavra dita.

De um lado, a dor de Tic, por ter vivido por anos apanhando de seu pai e desejando não ser seu filho. Do outro lado, Montrose carregando o a dor de nunca ter podido ser quem sempre quis para proteger e preservar sua família, para se encaixar no que era social e politicamente correto; além da dor de revisitar o massacre de Tulsa, como um sobrevivente. Tal momento, não foi só traumático, mas um divisor de águas para o homem que seria no futuro.

A primeira noite do massacre teria sido uma das piores noites de sua vida, independentemente, mas é tudo exacerbado por outra pessoa que ele sacrificou ao longo do caminho: Thomas, outro jovem por quem ele era apaixonado.

Como parte do plano, o trio chega à Tulsa, horas antes do massacre acontecer e descobrem que o pai de Montrose o agredia constantemente, por ele ser gay.

Eles se dividem. Leti fica responsável em pegar o livro, enquanto Tic precisa encontrar seu pai que pretendia avisar a Thomas que ele morreria. Pai e filho revisitam o momento em uma das cenas de maior impacto da noite. Enquanto Montrose narra tudo que aconteceria. Desde o momento em que diria à Thomas que não era gay (pois havia decidido ser o exemplo de homem de família para seu pai), até quando ele (Thomas) é assassinado por jovens brancos com um tiro na cabeça. Toda a cena, é uma espécie de catarse entre pai e filho, onde ambos entendem as mazelas que os anos trouxeram. E de maneira impactante, descobrimos que foi Tic quem os salvou (Montrose, Dora e George), ou seja, ele é um viajante do tempo.

Obviamente que tal informação fica esquecida em meio a tanta emoção histórica que a cena e o episódio proporciona.

Em outro ponto de Tulsa, está Leti que ao ser interceptada e quase morta por homens brancos é salva pelo pai do Montrose e acaba abrigada na casa de Dora. Leti sabe que aquela casa será queimada em questão de minutos, e que todos que estão ali irão morrer, então ela PRECISA encontrar o Livro dos Nomes.

Enquanto procura, Nana Hattie a encontra fuçando nas gavetas e é quando Leti conta ser uma viajante do futuro e explica o porque de estar ali. Enquanto a casa está sendo atacada, Hattie a entrega o livro, e o encanta. Hattie dá a Letitia o Livro dos Nomes que foi passado para ela guardar, e nós a observamos aceitar o destino de sua família. O novo bebê, seu tataraneto, será “sua fé feita carne”. As duas rezam o Pai Nosso juntas e observamos enquanto ela queima viva. Para que a linhagem continue, esta família em 1921 tem que seguir seu infeliz destino

O episódio, queria nos fazer sentir a mesma dor daquelas pessoas. Não só as que morreram no massacre, mas como Leti, Tic e Montrose que viam a tudo sem poder fazer absolutamente nada.

O programa, realmente quer que testemunhemos violência, mas este episódio realmente nos mostra o potencial de tal compromisso; as cenas que se seguem são bastante impressionantes, aliadas a trilha sonora que funciona quase com um poema é de causar impacto.

Esse episódio, não fala só sobre a história de gerações, mas sobre como tal história influenciou na relação destas gerações. E como após vermos, entendemos como muito da história se repete, mas que pode ser mudada.

Em uma cena belíssima, enquanto Leti caminha por entre as chamas dos bombardeios dos aviões, sem poder se machucar; Montrose narra a história e as vidas perdidas, através dos séculos, revisitanto as pirâmides do egito, os navios negreiros, homenageando vítimas reais do massacre.

Eles conseguem voltar para os dias atuais, com o livro recuperado, e suas vidas impactadas para sempre, certamente. Agora Hypollita tem cabelo azul (transformado enquanto tentava impedir o fechamento do portal) e Christina espera que Tic se ofereça voluntariamente em Ardham no equinócio de outono. O que será que veremos no episódio final?

Por aqui certamente seguimos ressignificando a história, e nos perguntando: Onde está Ji-Ah?

A série é exibida aos domingo às 22h na HBO.

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